Amor à Camisola
No tempo em que os campos eram pelados e as bolas de cautchu a expressão amor à camisola era tão vulgar como apito dourado o é actualmente. Os jogadores eram amadores (os do primeiro escalão recebiam um ordenado, mas na esmagadora maioria não o suficiente para excluir uma verdadeira profissão) e o futebol era vivido como uma paixão, como ainda hoje se vê pelos campos dos distritais.
Com o passar dos tempos, com a chegada do profissionalismo ao futebol e, na ultima decada, com o acordão Bosman, já ninguém se espanta por ver catraios de 20 anos milionários! E respectivos empresários, naturalmente. Empresários esses que, embora sem perceber muito bem porquê, recebem aos 10% de cada transferência concretizada. Ou seja, mesmo que um jogador jovem consiga uma transferência milionária para, por exemplo, o Chelsea, não permanecerá o tempo suficiente para desenvolver o tal amor à camisola uma vez que, obviamente, os 10% que foram parar ao bolso do empresário já foram gastos e convém pôr a mercadoria em movimento para se sacar mais 10%. É por estas e por outras que consigo respeitar muito mais as putas que os chulos, vulgos empresários.
Serve esta introdução para mostrar a minha admiração por dois dos melhores jogadores das últimas duas decadas, o galês Ryan Giggs e o italiano Alex Del Piero.
Ryan Giggs, jogador profissional desde 1991, fez toda a sua carreira no Manchester United, estando a escassos 5 encontros de completar a bonita soma de 700 partidas oficiais, em 15 epocas ao serviço dos Red Devils. Já Del Piero vai somente em 13 épocas com a camisola da Juventus ao peito, igualmente o único clube de uma brilhante carreira, completando recentemente 500 jogos oficiais ao serviço da Vecchia Signora. Numa era capitalista e de livre circulação de futebolistas, possibilitando inclusivamente aberrações como ver o Arsenal com 11 estramgeiros na equipa titular, é de louvar e admirar tamanha dedicação, sobretudo porque estamos a falar de dois jogadores portentosos que teriam lugar em qualquer equipa europeia! Existem seguramente outros exemplos, mas deixo aqui estes dois.
No reverso da medalha relembro o excêntrico Abel Xavier. Pelas minhas contas, desde que foi campeão mundial de juniores em 1991, jogou no Estrela Amadora (85 jogos), Benfica (45 jogos), Bari (8 jogos), Oviedo (58 jogos), PSV (19 jogos), Everton (43 jogos), Liverpool (14 jogos), Galatasaray (11 jogos), Hannover 96 (5 jogos), Roma (3 jogos) e Middlesbrough (12 jogos). Em 15 anos conheceu 11 clubes de 8 países diferentes. E, palpita-me, não ficará por aqui...
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