Dois Artistas
Na actualidade, e sem justificação plausível que não seja o chavão “gostos não se discutem”, fascinam-me Manuel Cajuda e David Beckham. E não é pelo facto de se destacarem na sua àrea como excepcionais – se assim fosse não estaria a justificar as minhas escolhas, de tão óbvias que seriam.
Tenho uma vaga ideia do Cajuda quando apareceu na primeira divisão do futebol nacional, ao serviço do Torreense, talvez na epoca 1990-91. Desceu de divisão, como seria esperado, mas Cajuda não se afundou com o clube. Pé ante pé, até porque pode ser um cromo mas é igualmente competente, chegou a clubes como Braga e Maritimo, que o deixariam na calha para treinar um dos grandes do futebol português. E é neste ponto que começa a maldição Cajuda, o mito que me fascina. Porque não deu o “salto” Cajuda? Com tanto incompetente (e fico-me pelos portugueses) a treinar os grandes, desde Quinito, Antonio Oliveira, Carlos Manuel a Jose Peseiro, Fernando Santos (este então valham-me todos os santinhos!...), inclusivé o “portista desde pequenino” Jesualdo Ferreira, porque carga d’água não teve Cajuda direito a pelo menos 3 mesitos de fama e proveito? Foi com ele que o Braga saiu do marasmo de antro de benfiquistas que sempre tinha sido, foi com ele que o Maritimo regressou às lides europeias, é o treinador que possui mais epocas e jogos na primeira divisão no activo e é, se a memória não me atraiçoa, o treinador que mais pontos conquistou aos grandes do futebol português, encarando-os sempre de frente, sobretudo quando actua no seu reduto. Talvez seja a sua lingua afiada que o prejudica, de Cajuda NUNCA se ouviria patetices cobardes como as que o Prof Neca proferiu antes de ser rebaixado de divisão na ultima epoca, nunca se colocaria com o rabo entre as pernas e consequentemente colocando os seus jogadores nessa posição. Cajuda é mestre na paródia e nas metáforas, quem não se recorda do seu Fiat 600 defrontar a Ferrari, sempre que se deslocava aos campos dos 3 grandes? O mouro como ele se intitula, talvez seja esse o problema dele, ser autêntico e sincero. De Cajuda não se espera atitudes à Jesualdo Ferreira, que tão depressa assina pelo Boavista como logo a seguir rasga o contrato para viajar para o FC Porto. Ou muito me engano ou Cajuda preferirá acabar a carreira sem ter o gostinho da vitória de um campeonato do que trair as suas convicções e principios de vida. És grande Cajuda!
Tenho uma noção exacta do surgimento de David Beckham na alta competição. Se nos dias de hoje os miudos em voga, acabados de sair de um Mundial de Juniores são, entre outros, Giovanni dos Santos e Freddy Adu, na altura de Beckham eram Dani e De la Peña. Quem se recorda do Mundial do Quatar’95, sabe do que falo. O líder da selecção inglesa que contra Portugal lutou por uma presença no Europeu de sub-21, à epoca, era David Beckham. Num qualquer estádio pequenote do nosso Portugal relembro-me perfeitamente de ver Dani e Dominguez partirem os rins a Beckham e amigos. Mas Beckham tinha uma enorme vantagem sobre os craques portugueses, era um dos meninos de Alex Ferguson no Manchester United. E era, sem margem para dúvidas, um profissional a sério. Sem esse requisito não faria 8 epocas de sucesso em Manchester e não seria jogador por 4 anos do Real Madrid. Foram 12 epocas nas melhores equipas e nos melhores campeonatos. Fizeram da imagem dele modelo e playboy, mas apontem-me um jogador que consiga treinar e jogar sem dedicação, ao mais elevado nível, durante tantos anos. E, para espanto de muitos e para satisfação minha, Beckham pregou uma chapada de luva branca a todos que o enterraram vivo; sem ele o Real Madrid NUNCA teria chegado ao titulo na última epoca em Espanha! Há jogadores que precisam da bola para brilhar, jogam para as bancadas com os seus malabarismos, David Beckham foi mestre na arte do dominio de bola, cruzamento e remate de bola parada. O que é técnica? Não é saber receber uma bola correctamente? Não é saber efectuar cruzamentos milimétricos para os avançados finalizarem? Não é saber executar com sucesso livres, sejam directos, indirectos ou pontapés de canto? Não façam confusão, adoro um bom par de fintas, mas isso não é técnica, é malabarismo!
E, goste-se ou não, Beckham é uma máquina de fazer dinheiro! Como é possível um clube gastar 20 milhões de euros na sua aquisição, pagar-lhe anualmente para cima de 5 milhões de euros, durante 4 epocas e, no final, contas feitas, mesmo deixando o jogador sair a custo zero… ter em lucro para cima do dobro das despesas? Como exemplo refira-se Rivaldo, a quem o Barcelona ofereceu o passe sem contrapartidas, de forma a poupar em salários! Rivaldo, com a mesma idade com que Beckham parte agora á conquista da América, estava em declinio, ainda desiludiu em Milão e a sua fama morreu em Atenas, onde o outrora craque definha semana após semana. A mentalidade americana, espelhada na forma como elegem um macacoide para seu presidente, não permitirá a David Beckham o feito de fazer do soccer um desporto de sucesso em audiências e visibilidade nos States. A estupidez americana já se reflecte no facto de o quererem ver jogar, mesmo estando lesionado num tornozelo, chegando ao cumulo de reclamarem por estar lesionado! Como resposta, numa mistura entre humor britânico e James Bond, Beckham senta-se no banco de suplentes impecavelmente vestido num fato Armani. Touché!
Manuel Cajuda e David Beckham, dois artistas imprescindíveis na minha enciclopédia futebolística.
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