Agassi: O inicio de um mito
Após uma carreira de 21 anos, Andre Agassi despede-se do ténis profissional aos 36 anos de idade. A vida de um atleta de alta competição, apesar de muitos aliciantes que acarreta, sobretudo se tiver uma carreira bem sucedida, pressupõe igualmente muito espírito de sacrifício, muita capacidade de sofrimento, e quando digo sofrimento não me refiro apenas às maleitas do físico (e no caso de Agassi foi penoso observar a sua decadência, a forma como no final de cada set mal se podia arrastar até à cadeira de descanso…) mas igualmente à capacidade de abdicar de muito bem-estar para alcançar os objectivos propostos.
Tinha na minha adolescência a imagem de rebelde sem causa associada a Andre Agassi. Estava longe de ser um dos meus tenistas preferidos, preferindo Stefan Edberg, Guy Forget ou o meu ídolo tenistico, Boris Becker. Mesmo quando o top do ténis se resumia aos embates entre o aborrecido Pete Sampras e Agassi, acabava por apoiar Sampras, sem motivo aparente. Sempre considerei Agassi um bom entertainer mas não um sério candidato a líder mundial.
No entanto, coincidindo com a sua queda nos rankings mundiais, com a sua conturbada vida privada, com o inicio da sua calvície, em 1996, numa altura em que era mais provável o abandono do atleta, já com 26 anos, do que o retorno ao top mundial, dá-se o renascimento competitivo de Agassi. Foi assistindo a esta notável capacidade de recuperação, quer física quer mental, sujeitando-se a jogar em torneios satélite, contra adversários infinitamente inferiores a ele mas que lhe deram força para reaparecer no ranking ATP (Agassi chegou a figurar fora dos 500 melhores jogadores do ranking…) que ganhei maior respeito e admiração pelo jogador. Não é qualquer um que regressa das trevas e consegue atingir um patamar de excelência, vencendo Grand Slams e chegando a Numero Um Mundial! Andre Agassi foi brilhante, foi um exemplo para todos, atletas e não atletas, uma prova que é possível atingir determinados objectivos desde que nos empenhemos o máximo! É deste Agassi que vou ter saudades, apesar de o outro, o da minha adolescência, ter sido igualmente um regalo, não tenistico, mas de rebeldia. No final, verdade seja dita, vou ter saudades dos 2 Agassis!
PS:
Quanto a títulos, aqui fica o currículo de um homem que conquistou 60 títulos de torneios ATP, entre os quais 8 Grand Slams – 4 Austrália Open (1995, 2000, 2001, 2003), 1 Roland Garros (1999), 1 Wimbledon (1992) e 2 US Open (1994, 1999) e ainda a medalha de ouro olímpica em 1996! Como se pode depreender pelo vasto currículo, até à sua metamorfose em 1996, coincidente com o seu apogeu físico, Agassi tinha somente 3 Grand Slams conquistados! É de facto o tenista que mais torneios do Grand Slam conquistou com mais de 27 anos, nada mais do que 5! O que seria do currículo deste atleta se tem pautado a sua carreira sempre do mesmo modo? Certo é que Agassi entra para a história do ténis mundial como um dos seus melhores executantes de todos os tempos, com uma história que dará certamente um best-seller e um bom filme e retira-se da competição ainda numa posição extremamente respeitável: é 37º do ranking, aos 36 anos! E, no momento em que acabo estas linhas, deve estar deitado no soalho, imóvel, à espera que (mais uma) injecção de cortisona lhe retire as dores nas costas. Quem sofre assim, por amor ao jogo, merece total admiração.
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